16 de fevereiro de 2009

[Pensar é Transgredir]

"Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas, mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que a final se conseguiu fazer." (p. 19)

"Para ser inteira não preciso me defender erguendo barreiras a minha volta: às vezes só me fragmentando e dilacerando de amor, dor ou perplexidade, terei chance de juntas meus pedaços e me reconstruir mais inteiro." (p. 106)


(LYA LUFT)

13 de fevereiro de 2009

[Quem?]

"Sabe a garota do copo de água?
- Sei.
- Se parece distante, talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente a criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?"


(O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN)

8 de fevereiro de 2009

[2008]

"Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia.
De repente, a coisa começou a desacontecer.
Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro).
Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem.
Ou: que se há de fazer."

(CAIO FERNANDO ABREU)

30 de janeiro de 2009

[O Amor Esquece de Começar]

"Quando estamos sozinhos, somos pela metade.
Quando somos dois, somos um.
Quando deixamos de ser um dos dois,
não somos nem a metade que começamos a história."


"A você, que é uma promessa de cheiro, de chá, que coloca perfume nos pulsos e no pescoço, que tem receio de chorar onde não se chora, de falar o que não se deveria, que se controla e se autocensura para não se entregar.
A você, que passou a vida a disciplinar o desespero, que segura a bolsa perto do quadril, que é suave para olhar de canto.
A você, que está aqui e não se resolve, porque não é aqui que está, mas dentro daquilo que procura.
Alguns procuram um endereço; outros, um sentido." (P. 19)

"Você tem medo de se apaixonar.
Medo de sofrer o que não está acostumada.
Medo de se conhecer e esquecer outra vez.
Medo de sacrificar a amizade.
Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros.
Medo se o telefone toca, se o telefone não toca.
Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa." (p. 30)

"Eu amo desorganizado, desavergonhado.
Tenho um amor que não é fácil de compreender porque é confuso.
Não controlo, não planejo, não guardo para o mês seguinte.
A confusão é quase uma solidão adicional.
Uma solidão emprestada.
Sou daqueles que pedirá desculpa por algo que o outro nem chegou a entender, que mandará nova carta para redimir uma mágoa inventada, que estará se cobrando antes de dizer.
Basta alguém me odiar que me solidarizo ao ódio.
Quisera resistir mais.
Mas eu faço comigo a minha pior vingança." (p. 88)

"Viver é se cortar.
Não contar os riscos.
Quero pecar sem intervalos.
Não há como amar sem dar tempo ao ódio.
Não há como odiar sem dar tempo ao amor.
Paixão é não saber.
Quando se sabe, é amor." (p. 90)

"Não há castigo infinito.
Não há dor infinita.
Um dia a gente termina para começar, começa para terminar, refaz o percurso como se nada tivesse acontecido antes." (p. 97)

"Por piedade, não me deixe viver o que posso, que me seja permitido desaprender os limites." (p. 126)
 

"Talvez a vida seja curta para cumprir as expectativas, talvez seja longa para entretê-las." (p. 162)

"Amor, como uma biblioteca, não é posse, mas despertence.
Quanto mais leio mais perco as certezas do começo.
Quanto mais amo mais corro pro final." (p. 183)

"Cometa bobagens.
Não pense demais porque o pensamento já mudou assim que se pensou.
O que acontece normalmente, encaixado, sem arestas, não é lembrado.
Ninguém lembra do que foi normal.
Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público." (p. 197)

"O amor não está nem aí para o que acreditamos e deixamos de acreditar.
Ele acontece, apesar de nós." (p. 209)

"Este texto não era para ser lido por você.
Somos dois enganos assustados, um pedido de socorro, uma curiosidade, uma coincidência.
Não se rasga mais o que já foi lido." (p. 277)


(FABRÍCIO CARPINEJAR)